sábado, 4 de agosto de 2012

Presentificar

Estarmos presentes no presente. Nossa mente cheia de pensamentos desgovernados dificulta nossa presença mais aterrada no mundo. Como fazer do mundo, um mundo melhor, se não estivermos atentos/as? Só atenção não é suficiente. Há toda uma interioridade que pode estar perturbada de forma crônica, fruto de um tempo longo de adversidades, privações, vazios, desamparo, dores experimentadas sem elaboração.
A vida não é uma festa. Não é doce, nem suave. Há sofrimentos psíquicos, sociais, familiares. O processamento, as condições favoráveis ou não para o seu enfrentamento variam para as pessoas em seus mais diversos contextos. Nossa contribuição para tornarmos o mundo, um mundo melhor, esbarra no obstáculo, nó contemporâneo: individualidades incensadas de forma excessiva. Parece que se cuidarmos do nosso EU, tudo estará resolvido.  E o NÓS?
O chamamento da imagem acima é imperativo. Melhoremos o mundo agora. Não esqueçamos que somos parte dele. Olhemos para dentro de nós cada vez mais, mas não nos percamos no nosso infinito particular. As relações intersubjetivas são absolutamente fundamentais. Intercambiamos e nos enriquecemos. Nem sempre, é verdade. Às vezes os contatos sociais nos cansam, desafiam, rivalizam, mordem, rechaçam, desprezam. Mas nos oferecem a dimensão dos contrastes: o escuro, o duro, o amargo, o difícil. Vida é prosa e poesia. .
E a psicoterapia onde entra nessa relação do presente, do chamamento para a participação engajada na construção de um mundo melhor?

Psicoterapia psicocorporal


A abordagem psicossomática reichiana coloca o paciente em contato com as suas sensações corporais. Um dos aspectos centrais desta forma de psicoterapia é favorecer a expressão e o contato com as emoções. Vivemos dentro de um corpo biológico que sente. Temos uma respiração que se altera com as mudanças emocionais. Se não prestarmos atenção ao que nosso corpo exprime: batidas do coração, respiração encurtada, fala acelerada, tons baixos da voz, hesitações na fala, no ritmo, mãos frias, gestual, dificuldade de olhar nos olhos, como poderemos nos apossar de nosso comportamento? Observamos o que pensamos? Nossa mente e nossa consciência se interrelacionam. O tempo apressado da nossa era, as tecnologias disponíveis, as agendas cheias são elementos que contribuem para o nosso automatismo? Cuidado: a nossa alma tem epiderme. E as dos demais humanos também. Vamos sentir. Reconhecer nossa respiração. Fazer uma conexão com a qualidade dos nossos pensamentos.
E se estivermos confusos demais, sem condições de fazermos intervalos e nos atropelando  é possível que estejamos desrespeitando nossos ritmos corporais. Somos complexos e atravessados por muitas influências: cultural, social, profissional, religiosa. Nosso corpo é uma unidade em contato com o ambiente. Caminhamos numa corda bamba que revela nossa tentativa de equilíbrio constante. Nós, nossa individualidade e nossa relação com o mundo que nos rodeia.
Somos um corpo biológico atravessado pelo cultural. A abordagem reichiana aposta na relação da díade, paciente e terapeuta, como plataforma para o resgate da posse do corpo biológico. Nominar o que se sente é um passo importante para articular o que se percebe. Como sei se estou feliz ou triste? Como reconheço que o meu peito dói porque me aborreci? Quando falo de situações dolorosas e sinto vontade de chorar entendo o que está acontecendo comigo? Inúmeras situações vividas, muitas vezes se encontram repletas de uma falta de intimidade consigo próprio. Se não me compreendo suficientemente como posso me administrar?
 A psicoterapia pode nos aproximar de nossas questões centrais e um caminho pode ser escutar o corpo, seus sons, vibrações, tensões, dores e também o incremento de prazer que nos proporciona. Sem esta escuta fina e sem compreensão da nossa interioridade, que inclui pensamentos e sentimentos, nos violentamos, nos intoxicamos, negligenciamos nossa saúde global. Vamos continuar permitindo que isto aconteça?