quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A função de continente



A etimologia latina do termo continente, continere = conter, designa uma condição de  disponibilidade na qual o[a] psicoterapeuta se coloca para acolher os conteúdos de seu paciente. Os conteúdos referidos são angústias, necessidades, desejos, demandas que são contidos [recebidos] pelo[a] psicoterapeuta. A ideia de contenção pode ser análoga a do náufrago que avista terra firme. Há um lugar onde se ancorar, não se está mais à deriva. No entanto, cabe aqui uma ressalva quanto ao significado desta analogia. O[a]  psicoterapeuta não está ali para exercer o papel de "salvador"[a] do[a] paciente, embora eventualmente certos pacientes o coloquem neste lugar, não é função do terapeuta ocupá-lo.

                                                                                                                                                       
Os problemas emocionais encontram no processo de psicoterapia e na figura do [a] psicoterapeuta um suporte e é essa a ideia presente no conceito de continente. Esta função ativa do psicoterapeuta  não é só de contenção como afirma o autor Zimerman* (2007), mas de decodificação, transformação, significação e nomeação das questões  do paciente escoadas na sessão. Cabe ao psicoterapeuta devolver de forma "desintoxicada" tudo aquilo que nele foi projetado. No setting terapêutico se cria um espaço de análise e elaboração desse material. Clareando aqui mais um ponto. Existe também o conceito de auto-continência que é de capital importância para o paciente desenvolver, caso não tenha essa capacidade ainda bem formada. Um exemplo que pode ser dado é o da pessoa que precisa compartilhar toda sorte de sentimentos e pensamentos com os demais. Não consegue sustentar, conter, guardar dentro de si suas próprias aflições e transborda a todo momento. A função de continente também é delimitadora e traz a ideia de fronteira.







*Zimerman, David. (2007). O mapa mundo psíquico: uma ampliação da aplicação, na prática psicanalítica, da noção de continente, em Bion. Intersecções n.13. pp. 72-82.

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